terça-feira, 11 de março de 2008

A QUINTA ESTAÇÃO

Não são apenas quatro, as estações. Não em meu coração. E é reconfortante saber que foi e será sempre assim... Que há uma rotina para os corpos celestes, explicada pelos movimentos de rotação e translação. Representações, trajetos, regularidades na orientação espaço - tempo, o que foi possível muito antes da bússola, dos relógios e do calendário. Tempo cíclico de dia, mês e ano, e a idéia de tempo não cíclico: o tempo histórico, que comporta as idéias de passado, de registro, de memória e de presente, de mudanças essenciais e irreversíveis.

Namorei os corpos celestes também pela necessidade de aprender a registrar ciclos e me orientar no espaço. Os homens associam mudanças na vegetação, hábitos, épocas de chuvas com a configuração das estrelas ou com o trajeto do Sol. Com a elaboração do mapa dos céus e da Geometria, situa-se com maior precisão na Terra e no espaço cósmico.

Mas, apesar da conexão observada entre os ritmos e variações, nem tudo depende de fatores relacionados aos corpos celestes: emoções provocam transformações em razão da própria estrutura, da orientação do eixo e dos movimentos do sentimento. Foi assim criada a quinta estação.

Sim, não ouso dizer que te culpo ou a mim. Pensei que eu tinha tudo porque tinha teu sorriso a cada dia. Chovi, trovejei, esfriei, transportei grãos a celeiros imaginários quando acreditei que era pródiga. O significado dos ciclos não me passou despercebido porque sentia que tudo retornaria na quinta estação... Todo o calor, presenças, força, estariam de volta após o Inverno. Recriaríamos as cores outonais em tons de fúcsia, e inscreveríamos poemas desidratados nas águas correntes das enxurradas.

Assim como o dia sempre sucede à noite, sucederíamos às quatro estações com igual regularidade. Três meses? Que importa? Durasse o tempo necessário de criar raízes profundas, tão profundas que seriam capazes de esperar todo o ciclo. Era um sonho. Nunca existiu. Eu pensei que estaríamos juntos até sempre. Eu pensei que nossa conexão fosse eterna. Imaginei, nas minhas elucubrações, que seríamos um do outro na quinta estação, ainda que houvesse Primaveras e Verões de ausências e dor.

Eu não contava com a quebra do ciclo ou o fato de que as mesmas leis não regem os corpos celestes e os terrestres. Jurava que nossos corações estariam eternamente em conjunção, teus olhos nos meus, tua vida junto à minha vida. Agora que estás de partida revejo meus conceitos todos, minhas expectativas, meu caminho. Dói saber que nada é imutável, que o apego é uma leviandade da alma, que na verdade tudo muda, gira, foge ao controle, muda de órbita repentinamente... Teu amor foi como o caos que recriou minha solidão, uma constelação de estrelas cadentes, um cometa que passou. Mais nada.

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