sábado, 15 de março de 2008

PORTAS FECHADAS

Quando abri a porta da minha casa, meu coração batia descompassado. Uma dor difusa me apertava o peito e parecia que eu não respiraria se não puxasse o ar com força para dentro dos pulmões. O que me esperaria ?

Coloquei as chaves na mesinha, como de hábito e segui pelo corredor em direção ao meu quarto. A dor no meu peito agora era quase insuportável e eu tremia como se tivesse febre. Na porta do quarto ainda parei, segurando a maçaneta com as duas mãos, na esperança de que por alguma razão, eu fosse impedido de entrar. Quem me impediria? Nesse momento cheguei a pensar em voltar atrás, percorrer o caminho de volta, fazer muito barulho na sala, espantando assim os fantasmas. Pensei ainda em fingir que nada acontecera. Eu sairia, voltaria para o trabalho na Prefeitura, me sentaria à minha mesa, cercado pelos papéis e documentos que me eram familiares, conversaria com meus colegas e ate riria de alguma piada engraçada.

Pela minha cabeça se passaram tantas lembranças __ boas e más __ e também tantos sinais, mais ou menos evidentes, de que Luiza tinha um amante, que me senti meio tonto e nauseado, com uma enorme ressaca de vergonha e tristeza. E agora? Eu iria em frente, abrindo a porta dramaticamente e dizendo: __ Bem que eu desconfiava, sua vagabunda, prostituta, desclassificada!!! __ e vendo Luiza se assustar, querendo explicar o inexplicável? E pior, ouvi-la dizer que foi melhor assim, que não teria coragem de me deixar, mas já que eu sabia ... Ou ver no rosto do homem em minha cama, os sinais de medo, surpresa e, por que não, vitória?!

De repente eu tinha, não cinqüenta, mas oito anos de idade e novamente me colocava à porta do quarto de minha mãe, chorando e pedindo para dormir em sua cama. Tivera um pesadelo. Tremia de medo. __ Não! __ ela gritava __ seja homem! O fantasma da rejeição sempre rondando todas as portas de quartos da minha vida, o velho fantasma branco e gelado que não me deixava sentir o calor e o aconchego do amor. Por quanto tempo eu carregara a certeza de estar sempre do lado de fora, choramingando e implorando? Minha vida havia sido assim, uma certeza mais que absoluta de que um dia as portas se fechariam e eu não poderia mais entrar.

Com as duas mãos na maçaneta eu ainda não sabia se entrava ou não naquele quarto, o sagrado quarto de casal, que fora profanado desde não sei quando pelo desamor de minha esposa. Uma mulher a quem eu torturara com ciúmes incessantes durante os longos anos de um casamento monótono e frustrante. Quem sabe não fora eu quem a empurrara para o adultério com minhas desconfiancas, minha aridez e meu fantasma eternamente presente? Eu talvez abrisse a porta e expusesse Luiza totalmente, na sua nudez, traição e deslealdade, não fosse a dor que me apertava o peito como um alicate __ brutalmente__ como se naquele momento eu estivesse prestes a ter um enfarte.

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