Paris... Ah, Paris...
Se a Torre Eiffel me deixou muda de emoção, enquanto eu olhava para o alto, encantada, os negros senegaleses de camisas floridas, que vendiam souvenirs bem barato se escondendo da polícia, me deram muito medo... e sustos. O lixo espalhado nos gramados deixaram minha pose turística aos frangalhos... a multidão que se espremia nas filas, o calor inclemente, o preço do sorvete de chocolate e o brusquidão dos vendedores oficiais causaram um estrago tão grande, que as únicas lembranças reais foram as fotos tiradas às pressas, onde consta que tudo está bem. Tudo parece lindo e chique, com um toque sofisticado que Paris sempre causa nos desavisados sonhadores como eu.
Os Champs Ellisees e suas lojas sofisticadas reluziam, coroados pelo Arco do Triunfo. Nada mais belo, mais caro, nem mais inviável. Um dedo de café em uma xícara e um brioche murcho saboreados sob o toldo azul na calçada... uma compra em saldos... um passeio de um dia todo em um ônibus turístico vermelho... Isso é Paris para os incautos... E talvez seja uma das cidades mais belas e acolhedoras que se possa desejar.
O sonho de conhecer Montmartre culminou por um caminhar em uma avenida superlotada e imunda, coroada pela Catedral de Sacre Couer, onde turistas animados cantavam e dançavam ao som de “La Bamba”, que um grupo musical amador esparramava pelos degraus da igreja... Entrar na catedral e caminhar circundando uma missa em plena celebração... e na saída colocar uma moeda de dois euros na máquina tipo caça- níqueis, que em troca me presenteou com uma medalha do Sagrado Coração de Jesus em metal dourado...( Me pareceu ver Jesus, com um chicote na mão, ameaçando os abusados capitalistas... A indústria do turismo francês é muito rentável para que se coloque limites aos turistas).
Como sonhei com o Louvre! E em filas quilométricas me exasperei e como um cordeirinho obediente segui a multidão até uma Mona Lisa protegida por camadas de vidro, Vênus de Milus e obras de arte inúmeras. Sem glamour nenhum fotografei o que quis, me espremendo na multidão.
Notre Dame ficou inviável. A fila contornava a praça e descia pela rua apinhada de gente. Com fome encontramos uma espécie de sanduíche com um pão francês de quinta e um jámon (presunto) duro e seco. Uma coca zero a 3.80 euros fez descer essa iguaria.
Para mim, Paris foi um susto. Uma sucessão de metrôs e ônibus lotados. Taxistas mal- educados. Uma canção dissonante. Durante seis dias tentamos nos entender com uma população desinteressada, dotada de um estranho comportamento: pessoas que te empurravam nas ruas sem nem mesmo pedir “pardon”, a estar sempre a te colocar no “seu devido lugar”, te deixando a esperar por um longo tempo ou te lançando um indelicado olhar de reprovação.
É verdade que tivemos mais sorte na Espanha: Madrid, Granada e Barcelona se mostraram amigáveis e até mesmo acolhedoras. O frenesi de Madrid, de tão intenso, contagiava, e caminhamos como loucas por três longos dias, sob o sol de quarenta graus, que só se punha por volta das 22.30 horas. O museu del Prado, a Puerta del Sol com sua multidão díspare, frénetica e apressada, valeram o calor e cansaço.
Granada foi uma surpresa boa, apesar de escaldante. No hotel o ar condicionado não funcionava. A água escorria do banheiro para o quanto como um rio. Milhares de degraus e nenhum elevador nos esperavam a cada volta. Mas houveram momentos mágicos no bairro judeu. Um chá marroquino maravilhoso, seguido de narguilé em um ambiente oriental lindíssimo. O castelo de Alhambra, esplendoroso e cheio de mistério. Os bares de “tapas”_ tiragostos, que acompanham canecas lindas de cerveja geladissima. As compras bem em conta. Os menus fartos de paellas e frutos do mar. Senões foram as faltas de carregadores para as malas. Falta de ar condicionado e de frigobar no quarto.
Barcelona foi um sucesso de bilheteria. Adoramos a comida, os castelos, o porto e a praia. A Vila Olimpica e a memória das olimpíadas celebradas. O hotel que era um mausoléu com seus brocados e rococós... Era feriado. Estava quente demais, mas tomamos “cavas”( um vinho espumante magnífico) gelada e contamos com algumas parcerias significativas... uma amiga conterrânea que foi guia, um garçon simpatississimo e engraçado, uma localização previlegiada. Ninguém teve culpa se assistimos a um assalto de motociclistas a uma desavisada mulher que foi arrastada pela bolsa, calçada a fora. Nem se perdemos os cupons das malas que ficaram no bagageiro do aeroporto e quase perdemos o voo. Coisas da vida. De viagem. De inexperiência.
Portugal? Uma sucessão de praças, monumentos e ruas iguais. Quem viu um, viu todos. Mas o bacalhau coloriu as refeições em pratos formidáveis. A gentileza incomum na Europa ainda reinava lá e o calor não estava insuportável. Vilas e povoados interessantes como Sintra se apresentaram com seus castelos e ruelas pitorescos. Chuva até. O comboio, trem português, nos conduziu a muitos lugares bonitos. Nada demais, nem de menos. Fátima foi descortinada em um dia, com sua basílica imensa e o turismo religioso produzindo compras de medalhas, imagens, tercinhos e coisas assim. Muito bom porque fomos de táxi com alguém simpático e gentil. Um achado. Brasileiro, naturalmente.
A Itália foi um filme de terror, no mínimo. Entremeado com algum charme. De cara um taxista malandro roubou uma preciosa mala e seu conteúdo. O hotel, um horror reservado pela internet, tipo albergue, onde cada um lavava a propria louça por 40 euros ao dia, um elevador que faria jus ao Stephen King e um mundo de regras sem cabimento, como estar fora das 11 as 14 horas, obrigatoriamente. Fomos roubados pelos taxistas, comerciantes, garçons. Os italianos me pareceram grosseiros, atrevidos, pernósticos e insuportáveis. A Itália passou pelos meus olhos como que através das janelas dos trens _ paisagens soltas, calor, falta de informações, poucos contatos humanos. Vi o coliseu com uma má vontade que o tornou banal. Fomos a Assis e a cidade me pareceu medíocre e calorenta. Não pude entrar nas basílicas pelos meus trajes "impróprios"; o trem foi um pesadelo porque as portas não abriram sozinhas, a passagem estava trocada e foi cobrada com multa, e a cobradora era uma espécie de Mussolini mal humorada. Não saber o idioma, outro problema meio insolúvel, visto que a má vontade imperava em toda parte.
Veneza. Como sonhei com Veneza... Mas a realidade me apresentou gôndolas decoradas de veludo vermelho, que luziam ao sol insuportável de julho. Turistas lotavam todos os bares e restaurantes. Problemas com a bagagem, um hotel do outro lado da ponte que não tínhamos como atravessar e uma angústia crescente, nascida do medo que todo o panorama desencadeava. Tivemos ótimos momentos também. Uma loja de máscaras fantástica e seu proprietário, um charmoso arquiteto. Compras de preciosidades em vidro murano, bem em conta. Uma beleza arquitetônica rara, quando vista com olhos mais descansados e atentos. Mas havia cansaço, calor, excesso de gente, vendedores incompetentes e confusos. E um desejo enorme de voltar pra casa, para o Brasil brasileiro tão acolhedor e belo e confortável.
Claro que minha visão é parcial.
É a minha, a de uma turista acidental que acalentou sonhos mirabolantes e planejou mal as férias.
De quem não queria gastar demais, nem podia.
De quem vê a tudo com olhos críticos e atentos, sem dó nem piedade de sí nem de nada.
De quem carregou malas pesadas, cujas rodinhas se quebraram, por vários lugares, lutando com o peso e o desconforto. E pagou caro pelo excesso de uma bagagem inviável e inútil. E se viu correndo mais do que esperava, num roteiro difícil, de tão cheio. E escolheu erradamente a alta temporada com seus turistas todos e seu verão insuportavelmente quente.
Imprevistos.
Amadorismo.
Inexperiência.
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Eu faria tudo diferente agora.
Eu faria tudo ao avesso.
E seguiria um roteiro profissional, uma excursão talvez, com suas diretrizes e guias e alguém que quebrasse todos os galhos e resolvesse todos os problemas. Vejam que estivemos por nossa própria conta. Muitas vezes sem saber o idioma, conhecer os costumes. Sem imaginar o que nos aguardava.
Penso que fomos heroínas, as quatro mosqueteiras que se aventuraram numa viagem para conhecer os lugares “por dentro” e não receber as informações de “mãos beijadas” dos guias das excursões... Que fomos incriveis. Que fomos mágicas. E muito, muito corajosas.
E que, apesar de não ter bula nem manuais, usamos bem o que foi possível dos lugares onde passamos.
Ano que vem talvez a gente volte.
Não, ano que vem a gente volta, já está agendado.
Bem mais light... bem mais conscientes...
Em circunstâncias muito, muito outras.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
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